Ressalva

Este livro foi escrito por uma mulher que no tarde da Vida recria a poetiza sua própria Vida. Este livro foi escrito por uma mulher que fez a escalada da Montanha da Vida removendo pedras e plantando flores. Este livro: Versos… Não. Poesia… Não. Um modo diferente de contar velhas estórias.

Poema de trás para frente

A memória lê o dia de trás para frente acendo um poema em outro poema como quem acende um cigarro no outro que vestígio deixamos do que não fizemos? como os buracos funcionam? somos cada vez mais jovens nas fotografias de trás para frente a memória lê o dia

Encomenda

Desejo uma fotografia como esta — o senhor vê? — como esta: em que para sempre me ria como um vestido de eterna festa. Como tenho a testa sombria, derrame luz na minha testa. Deixe esta ruga, que me empresta um certo ar de sabedoria. Não meta fundos de floresta nem de arbitrária fantasia… Não… […]

Ária pequenas. Para bandolim

Antes que o mundo acabe, Túlio, Deita-te e prova Esse milagre do gosto Que se fez na minha boca Enquanto o mundo grita Belicoso. E ao meu lado Te fazes árabe, me faço israelita E nos cobrimos de beijos E de flores Antes que o mundo se acabe Antes que acabe em nós Nosso desejo.

Instante

Do imenso agora Vejo seus olhos Breve corrijo Longe desnuda Não os tenho mais.

Frases

Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.

Romance em doze linhas

quanto falta pra gente se ver hoje quanto falta pra gente se ver logo quanto falta pra gente se ver todo dia quanto falta pra gente se ver pra sempre quanto falta pra gente se ver pra sempre quanto falta pra gente ser ver dia sim dia não quanto falta pra gente se ver às […]

Fagulha

Abri curiosa o céu. Assim, afastando de leve as cortinas. Eu queria entrar, coração ante coração, inteiriça ou pelo menos mover-me um pouco, com aquela parcimônia que caracterizava as agitações me chamando Eu queria até mesmo saber ver, e num movimento redondo como as ondas que me circundavam, invisíveis, abraçar com as retinas cada pedacinho […]

Sem título

A lente do amor grudou na retina e trouxe a realidade para a paixão. Agora, nela, veem-se poros abertos, veias desconcertantes e azuis ao lado das narinas, que inspiram e expiram o cansaço enfisêmico dos pulmões que já inflaram de êxtase e susto, espera e dor. como é engraçada a miopia dos amantes histéricos. (…) […]

Ser mulher…

Ser mulher, vir à luz trazendo a alma talhada para os gozos da vida, a liberdade e o amor; tentar da glória a etérea e altívola escalada, na eterna aspiração de um sonho superior… Ser mulher, desejar outra alma pura e alada para poder, com ela, o infinito transpor; sentir a vida triste, insípida, isolada, […]